Setor sucroenergético deve chegar a 60 usinas fechadas no país neste ano


As
dificuldades financeiras enfrentadas pelas usinas de açúcar e etanol, impulsionadas pela crise na economia global, devem resultar em pelo menos dez unidades fechadas na safra 2015/16 em Estados do centro-sul do país, como São Paulo e Minas

Além disso, o setor, que já sofreu o fechamento de 50 usinas desde 2008, de um total de cerca de 370, está travado, sem receber investimentos.

Essa é a estimativa de entidades como Unica (União da Indústria de Cana-de­ Açúcar) e Udop (União dos Produtores de Bioenergia).

Isso não significa que as usinas fecharão as portas definitivamente, mas não estão moendo cana-de-açúcar por falta de recursos financeiros ou por adequações logísticas.

“Para evitar a paralisação das usinas, é preciso um ‘Proer do etanol’. É o que o setor precisa”, afirmou o presidente da Udop, Celso Torquato Junqueira

O Proer foi um programa implementado em 1995 no governo do ex­ presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para sanear instituições bancárias em dificuldades financeiras.

A medida já foi defendida  pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues no segundo semestre do ano passado e é tema frequente no mercado sucroenergético.

Além dos problemas financeiros, o setor ainda enfrenta reflexos da crise hídrica, que vai “engolir” parte dos benefícios obtidos pelo setor, como o aumento da mistura do etanol à gasolina e a cobrança da Cide.

Um estudo feito em 2014 pela consultoria MBF Agribusiness, de Sertãozinho (SP), mostrou que a dívida das usinas que entraram em recuperação judicial soma R$ 13 bilhões. Das 67 que entraram nessa condição em seis anos, 40 não estão moendo cana -embora nem todas estejam oficialmente fechadas.

Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), disse que a paralisação das atividades é consequência da crise pela qual o setor passa.

“Em algumas, [o fechamento] já é oficial, como a antiga usina Amália.A Raízen também tomou a decisão de não processar cana em uma de suas usinas”, afirmou. Ele se refere à usina Bom Retiro, uma das 24 unidades do grupo que suspendeu as atividades industriais por dois anos.

A cadeia sucroenergética perdeu 300 mil empregos nos últimos anos, segundo o setor. Em Sertãozinho (SP), onde nove em cada dez fábricas produzem componentes para usinas, 2.046 empregos desapareceram das indústrias em 2014, o que motivou um protesto que reuniu  20 mil pessoas em janeiro.

Sócio da FG Agro, Willian Hernandes disse que o problema maior não é o que ocorreu em termos financeiros no ano passado, mas o acumulado de dívidas ao longo dos últimos anos.

“O histórico de fluxos de caixa anteriores, combinado a um cenário adverso, provocou isso. Neste ano, todas as empresas vão sofrer, da Petrobras às micro e pequenas.”

De acordo com ele, no entanto, o fechamento de usinas não deverá ocorrer em massa e o principal problema é que o setor não recebe novos investimentos.

“Nos últimos anos, o setor cresceu a uma média de 6,7% ao ano. Hoje cresce o%. Ele impulsionava a economia e não impulsiona mais, por causa da falta de investimento”, afirmou.

Fonte: Folha de São Paulo – 10/03/15